Quando Neto jogou a 5ª divisão do Campeonato Paulista pelo Osan

Na reta final da carreira, ídolo do Corinthians disputou a Série B-1-B do Paulista, e não decepcionou

Imagem: Válter Ferreira, via @baitacraque_neto/Instagram

A aposentadoria dos gramados transformou Neto em Craque Neto, um dos principais comentaristas esportivos do Brasil. Mas antes disso, Craque Neto foi craque com a bola rolando, vestindo as camisas de Guarani, São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos. Entre todos eles, viveu seu auge no Corinthians, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de 1990 e se tornou ídolo. Era nome certo na Copa do Mundo de 1990, mas foi descartado pelo técnico Sebastião Lazaroni.

Na reta final da curta carreira, Neto protagonizou uma passagem inesperada pelo Grêmio Recreativo Osan, efêmero clube de Indaiatuba que disputou divisões inferiores do futebol paulista no fim da década de 1990. Em campo, não decepcionou.

O clube nasceu como um desmembramento da metalúrgica Osan, fundada anos antes em Indaiatuba por Osmar Rodrigues da Silva. Ao batizar a empresa, Osmar homenageou a parceria com seu principal sócio, chamado Anacleto. Assim, uniu as duas primeiras letras do nome de cada um: Os de Osmar, An de Anacleto.

Inicialmente, o Grêmio Recreativo Osan disputava competições amadoras. Depois, foi profissionalizado e começou a participar de competições de acesso do Campeonato Paulista. Em 1998, veio a estreia na Série B-1-B, então a quinta divisão estadual. E foi nessa profissionalização que veio a oportunidade de contratar Neto.

A história começa no fim de 1997, quando Neto foi dispensado pelo Corinthians. Aos 31 anos e sem clube, o meia já pensava em pendurar as chuteiras. Até que recebeu um convite do Lousano Paulista para disputar a reta final da Série A-2 do Campeonato Paulista de 1998. Foram apenas sete jogos a partir de abril, com cinco vitórias, mas que chegaram tarde: o time de Jundiaí ficou em sexto lugar na primeira fase, que classificava quatro times para a disputa do acesso.

Ao fim do campeonato, Eli Carlos Alberto Pereira também deixou o Lousano Paulista. Ex-treinador das categorias de base do Guarani na década de 1980 e ex-coordenador de futebol do Bragantino no início dos anos 1990, Eli Carlos era o diretor de futebol do Lousano, e estava a caminho do Osan, onde assumiu o cargo de gerente de futebol.

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O Osan fez boa campanha na Série B-1-B desde o começo, brigando sempre entre os líderes. E no trabalho de incrementar o time, Eli Carlos buscou a contratação de Neto, que topou jogar a quinta divisão paulista. Para isso, tinha o privilégio de só aparecer para coletivos às quartas e sextas-feiras, apenas viajando nos dias de jogo. Nem se concentrava com o restante do elenco.

“O Osan estava muito bem no campeonato. Era líder de sua chave. Contratei o Neto para a gente fechar o torneio com chave de ouro”, disse Eli Carlos na biografia de Neto, Eterno Xodó, escrita por Renato Nalesso e Fabrício Bosi e lançada em 2011.

A estreia de Neto veio em 9 de agosto de 1998, pela 16ª rodada. Jogando fora de casa contra o Rio Claro, Neto entrou em campo pela primeira vez pelo time de Indaiatuba. E não decepcionou: com um chutaço de fora da área, fez o segundo gol na goleada por 4 a 0.

Até o fim da primeira fase, Neto jogou sete vezes pelo Osan e marcou nove gols. O time liderou seu grupo e foi às finais contra o Guapira, que foi campeão com dois empates por 0 a 0 graças à melhor campanha ao longo do torneio. Mas Neto nem atuou nas finais, já que foi chamado de volta a Jundiaí para jogar no agora Etti-Jundiaí para a disputa da reta final da Série C do Brasileirão.

“O Neto jogou no nosso time, no profissional. Fez uma bela campanha, fomos vice-campeões”, lembrou Osmar Rodrigues da Silva em 2021, em entrevista ao programa Papo Sol, do site Comando Notícia. “Ele estava na ativa ainda. Ele tinha contrato com o Paulista de Jundiaí, e nós trouxemos ele por empréstimo.”

O desempenho de Neto deixou Osmar satisfeito. Segundo o empresário, o atacante era “boa gente” e “ajudava muito as crianças” da comunidade. “Eu achei que foi um trabalho muito bonito dele”, resumiu, ainda em 2021.

Em sua biografia, o próprio Neto lembra com carinho da passagem pela Série B-1-B. “Ali estava jogando por prazer. Não por dinheiro. Ganhava R$ 800 por jogo. O engraçado é que, hoje em dia, duvido que um jogador de time mediano conseguisse jogar em um time como o Osan. O cara ia ter uma dificuldade tremenda”, descreveu.

“Aprendi muito na minha passagem pelo Osan. Principalmente os valores da vida. Deixar um pouco aquele foco gigantesco e ter mais humildade me ajudou bastante”, completo Neto, que se aposentou dos gramados em 1999. O Osan, por sua vez, oscilou entre a quarta e a sexta divisões de São Paulo nos anos seguintes, encerrando sua trajetória profissional em 2001.

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