É uma pena: Red Bull Bragantino vai virar o time mais odiado do Brasil

Gazeta do Povo

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Vou começar esse texto com uma opinião impopular: eu gostava do Red Bull Brasil. Não era um “time de empresários”, como muitos falavam. Era uma empresa que tinha criado um time. Tinha projeto e objetivos ambiciosos. Tinha uma ótima estrutura em Jarinu. São coisas que muitos clubes do Brasil não têm. Tinha até um mascote carismático!

Muitas pessoas criticavam o RB Brasil porque não tinha torcida, mas isso é normal para qualquer time novo. Muitos criticavam porque não tinha tradição, mas isso também só poderia ser conquistado com o tempo. Ora, um dia os clubes grandes não tiveram nem torcida e nem tradição.

Agora uma opinião comum: é claro que sempre gostei do Bragantino. Não lembro de ver o título paulista de 1990 (tinha 2 anos de vida), mas já estudei a história daquela campanha e admiro muito. Também lembro do “Massa Bruta” na Série A. E mesmo nas divisões de acesso o time teve algumas campanhas legais. O título da Série C, em 2007, foi bem interessante.

Ou seja, eram 2 times que eu gostava. Mas não consigo gostar da fusão dos dois. Em primeiro lugar porque a tradição do Bragantino vai acabar. O presidente do time, Marquinhos Chedid, já deu todos indícios de que não se importa com nada: vai liberar as mudanças de nome, escudo, uniformes e tudo mais que a Red Bull quiser.

Dá para entender a venda, porque é muito dinheiro envolvido. Mas talvez algumas exigências poderiam ser feitas para evitar transformações muito radicais. Na prática o Bragantino deixará de existir por completo em no máximo 5 anos – prazo de transição completa previsto no projeto.

Também não consigo engolir esse acesso instantâneo do Red Bull. Queria ver o time subir degrau por degrau. Chapecoense, Santa Cruz e CSA mostraram recentemente como é possível sair da Série D e chegar na Série A em pouco tempo. Seria mais uma história bonita. Mas a Red Bull preferiu o atalho e perdeu minha simpatia.

O que me consola é que essa atitude da Red Bull mostra como a Série D é forte: até uma empresa poderosa desistiu de disputá-la. Viu como é difícil. A última divisão é melhor que a primeira, já explicamos em vídeo.

Agora é fácil prever o que vai acontecer: o Red Bull Bragantino provavelmente vai chegar na Série A. Já tem uma base boa de jogadores e vai investir R$ 45 milhões em 2019, tanto em reforços quanto em estrutura. Se não conseguir o acesso na Série B agora, sobe em 2020 ou 2021.

E quando chegar na Série A, certamente o Red Bull Bragantino vai virar o time mais odiado do Brasil. Por motivos que entendo perfeitamente, muita gente já torcia o nariz antes de tudo isso. Pelos motivos que citei acima, será fácil aumentar a rejeição.

Pior: existe uma tendência natural do brasileiro odiar o clube que tem mais investimentos. Se os dirigentes da Red Bull trabalharem bem, a equipe pode até disputar vagas na Libertadores e títulos. E então o ódio só aumentará, pela rivalidade artificial.

Vale lembrar o que aconteceu na Alemanha: o Red Bull Leipzig nem acabou com a tradição de um time tão tradicional como o Bragantino, mas mesmo assim virou o clube mais odiado por todos outros. O alemão é tão fanático por futebol quanto o brasileiro. A reação será parecida. Ou até pior…

E dessa vez não terei como discordar. Adoraria se o Red Bull Brasil chegasse na Série A e construísse a própria história. Mas o projeto falhou, por vários motivos – a escolha de jogar em Campinas foi especialmente ruim. Então não dá para engolir fácil essa fusão. Desta vez estarei junto com a opinião da maioria: vamos odiar o Red Bull Bragantino.

*Esse texto não representa necessariamente a opinião do Última Divisão como um todo

Confira um outro ponto de vista sobre essa discussão -> O Outro Lado: Red Bull Bragantino busca iniciar uma nova era no futebol brasileiro

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