Aconteceu de verdade: a história do jogo que terminou 149 a 0

Imagem: ChaosSoccerGear/Pixabay

A Ligue des Champions, principal torneio de futebol de Madagascar, é disputada desde 1962. Ao longo de seis décadas, alguns times tiveram períodos de domínio no país insular, localizado no litoral da África Oriental.

Uma das principais potências locais é a Association Sportive Adema Analamanga, conhecida apenas como AS Adema. Fundado em 1955, o time da capital Antanarivo se tornou um dos grandes destaques do futebol malgaxe no século XXI, com quatro títulos na primeira divisão local: 2002, 2006, 2012, 2021.

O primeiro dos títulos veio em uma temporada bastante peculiar, com direito a uma vitória por 149 a 0 na última rodada da competição. Acredita? Então vamos por partes.

O torneio foi realizado entre agosto e outubro daquele ano, com sete clubes: SO l’Emyrne (da cidade de Mamisoa), AS Adema, DSA (de Antanarivo), US Ambohidratrimo, AS Jirama Fianarantsoa, AS Fortior de Toamasina e Varatraza d’Antsohihy. Um oitavo time, o FCE (de Tamatave) abriu mão de competir.

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Os times se enfrentaram em turno único dentro de um mesmo grupo, e os quatro melhores avançaram à segunda fase: SO l’Emyrne, AS Adema, DSA e US Ambohidratrimo. No quadrangular final, os quatro times se enfrentariam em turno e returno entre os dias 20 e 31 de outubro.

Após quatro rodadas, a AS Adema tinha sete pontos, contra cinco do SO l’Emyrne. O time de Mamisoa sonhava com o título, mas ficou só no 2 a 2 com com o DAS, e deixou o campo muito insatisfeito com a arbitragem de Benjamina Razafintsalama – em especial por causa de um pênalti marcado para o DAS no fim do jogo.

Na outra partida, a AS Adema venceu o US Ambohidratrimo por 1 a 0. Os resultados da penúltima rodada definiram a primeira posição do campeonato: a AS Adema tinha dez pontos e já era campeã. Por isso, o confronto AS Adema x SO l’Emyrne na última rodada serviria apenas para cumprir tabela.

Sem poder conquistar o título e sentindo-se prejudicado pela arbitragem, o SOE resolveu protestar na partida decisiva, marcando 149 gols contra. A cada saída, a bola era recuada e um novo gol contra era marcado. Aos jogadores do AS Adema, só bastou olhar com incredulidade e esperar o fim do jogo. A torcida teria inclusive protestado, exigindo o reembolso do dinheiro dos ingressos. Com o protesto, a AS Adema terminou o quadrangular com o saldo de 151 gols (153 gols marcados e dois gols sofridos).

Fora de campo, é claro, o protesto não foi bem recebido: a FMF (Federação Malgaxe de Futebol) advertiu os jogadores dos dois times. Quatro atletas do SOE – entre eles, o capitão da seleção local, Mamisoa Razafindrakoto – foram suspensos até o final da temporada, no fim do primeiro semestre de 2003. Pelo mesmo período, foram proibidos de entrar em estádios. O técnico foi suspenso por três anos.

O ministro da Juventude, do Esporte e do Lazer, René Ndalana, chegou a dissolver a FMF no começo de novembro. A entidade foi posteriormente reconstituída.

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