Texto escrito por Davi Saito (Por Fora das Quatro Linhas @pfqloficial)
Dessa vez o tema é o Brasil de Pelotas, clube tradicional do Rio Grande do Sul que entrou em forte declínio nos últimos anos, após um período bastante estável. Vem com a gente!
História
O início do clube vem lá dos primórdios do século XX, quando havia o Sport Club Cruzeiro do Sul, comandado por funcionários da extinta Cervejaria Haertel, em Pelotas, sul do Rio Grande do Sul. Em certo dia, alguns jogadores do elenco, revoltados com algumas situações, decidiram criar um novo clube.
Assim, de um rompimento com o Cruzeiro do Sul surgiu, em 7 de setembro de 1911, o Grêmio Sportivo Brasil, popularmente conhecido como Brasil de Pelotas. Posteriormente, seria renomeado para Grêmio Esportivo Brasil. Sua primeira partida foi um amistoso contra o Sete de Setembro, que terminou empatado em 2 a 2.
Inicialmente, o clube disputou torneios municipais até que, em 1919, veio o primeiro Gauchão e, em um duelo histórico contra o Grêmio em Porto Alegre, o Xavante aplicou um 5 a 1 no Tricolor e se tornou o primeiro campeão gaúcho da história. A conquista gerou um convite da então Confederação Brasileira de Desportos para uma disputa entre os campeões estaduais Fluminense (Carioca) e Paulistano (Paulista).
O próximo capítulo importante da história do Xavante ocorreu em 23 de maio de 1943 com a inauguração de seu estádio, o Bento Freitas, também conhecido como a Baixada. O nome é uma homenagem a Bento Mendes de Freitas, presidente do clube entre 1939 e 1941, que foi o idealizador do projeto.
Em 1950, em pleno Estádio Centenário, o GEB venceu a Seleção Uruguaia por 2 a 1, 4 meses antes do fatídico Maracanaço. Com o feito, o Xavante realizou uma excursão pelas Américas em 1956, passando por 9 países diferentes. Ao todo, foram 28 jogos, com 16 vitórias, 6 empates e 6 derrotas.
No âmbito nacional, seu grande destaque foi no Brasileirão de 1985, no qual chegou às semifinais. Porém, esta chegada começou em 1983, quando o jovem e promissor técnico Luiz Felipe Scolari assumiu o comando da equipe e iniciou um trabalho que se manteve mesmo após sua saída. Naquele Brasileirão, houve o recorde de público do Bento Freitas: 22 mil pessoas assistiram ao duelo contra o Flamengo de Zagallo, Zico e Bebeto ser derrotado pelo Xavante por 1 a 0.
A noite que não acabou
Infelizmente o próximo capítulo da história é extremamente triste. Em 15 de janeiro de 2009, durante o retorno à Pelotas, após um amistoso, o ônibus que transportava a delegação do Brasil caiu de um barranco de quase 40 metros, ferindo quase todos os 31 que estavam a bordo.
Muitos jogadores tiveram que se aposentar por conta das lesões, e três pessoas faleceram: O preparador de goleiros Giovani Guimarães, o zagueiro prata da casa Régis Gouveia e o uruguaio Cláudio Milar, que estava há quase dois anos na equipe e era considerado um ídolo.
Mesmo com o acidente, a direção optou por disputar o Gauchão, já que era a principal maneira de arrecadar fundos e ressarcir as vítimas. Com a maior parte do elenco hospitalizada, o Xavante foi rebaixado para a Segunda Divisão do estado, de onde sairia apenas em 2013.
Década de 2010
No âmbito nacional, a equipe estava na Série C e, mesmo com o acidente, resistiu e se manteve por alguns anos. Porém, o responsável por derrubar o clube para a Série D foi, como em outros casos analisados, o STJD.
Em 2011, o Xavante escalou o lateral Cláudio na partida contra o Santo André, vencida por 3 a 2 e válida pela Série C. Este jogador havia sido expulso na competição no ano anterior, quando jogava pelo Ituiutaba e, segundo alegou o time paulista, estava em situação irregular, o que o levou a acionar o STJD.
Inicialmente, o pedido do Santo André foi negado. Porém, o Joinville e a Procuradoria do STJD recorreram e, desta vez, o GEB foi punido com a perda de 6 pontos na competição, sendo rebaixado. Dois anos depois, foi campeão da Segunda Divisão Gaúcha e retornou à elite.
A temporada de 2014 foi muito positiva, assim como a década toda: veio um 3º lugar no Gauchão e o vice da Série D, garantindo o acesso à C. No ano seguinte, outra boa campanha no estadual e mais um acesso, desta vez ao eliminar o Fortaleza nas quartas de final do torneio nacional. Portanto, anos após o trágico acidente, o Xavante estava em uma grande ascensão.
Além dos fatos citados, houve também algumas conquistas em âmbito estadual, participações na Copa do Brasil, um vice-campeonato gaúcho e até mesmo uma disputa na Copinha, mostrando uma profunda estruturação da equipe. Para completar, o Bento Freitas passou por uma reforma. Parecia que tudo corria bem, mas só parecia…
Decadência
Em 2021, após anos na Série B, o Brasil foi rebaixado, mas os problemas já estavam escancarados: primeiramente, o clube estava em uma grave crise financeira, com direito a atrasos salariais. Segundo o jornalista Gustavo Pereira, do Diário Popular de Pelotas, as dívidas chegaram aos R$ 7 milhões, o que por si só não é um problema. Contudo, vamos ver o que o presidente da época, João Cruz, falou à Rádio Universidade:
“Um dos fatores para estarmos com a questão financeira pior do que deveria estar é a falta de apoio nos nossos sócios. Dos 4.500 sócios que possuímos, apenas mil estão em dia com o clube. Isso é muito sério para um clube pequeno como o Brasil de Pelotas”
Novamente, lidamos com um clube sem receitas (isto em 2021, com a Série B em disputa), o que agrava a situação financeira. Outro fator envolvido foi o esportivo, pois muitos jogadores foram contratados e não tiveram resultados, além da grande troca de treinadores em 2021. Por fim, como diz a frase, “o campo reflete a diretoria”: Ao todo, foram 4 profissionais que passaram pelo comando do futebol, ainda em 2021. Um dos motivos para o tamanho caos foi a saída do executivo Felipe Gil, em 2020, para o Paraná Clube, que era o responsável pela montagem do elenco.
O caótico ano de 2021 refletiu em 2022, pois os atrasos salariais continuaram e veio um novo rebaixamento, desta vez para a Série D, e os jogadores alegaram receber até mesmo pedidos de despejo por conta da falta de pagamento. Esportivamente, os anos de 2021 e 2022 tiveram, ao todo, 83 jogadores, segundo o supracitado Diário Popular.
Lembra que falamos da Copinha? Pois bem, em 2022, o clube já não tinha mais uma categoria de base e, apesar da reforma das arquibancadas do Bento Freitas, o estádio estava com alguns problemas estruturais. Outro objetivo que estava nos planos era a construção de um CT, mas ele também acabou atrasando.
Quando vemos todos estes fatores, chega-se à presidência do GEB. E é justamente este um outro problema: desde 2021, o clube teve algumas trocas de mandatário e, em junho do ano passado, o presidente Evânio Bandeira Tavares foi afastado pelo Conselho Deliberativo por 30 dias, mostrando uma enorme instabilidade administrativa.
2024 e SAF
Ainda em 2022, o supracitado Evânio Tavares declarou que planejava implementar uma SAF no Xavante, mas não encontramos novas atualizações sobre. No atual Gauchão, o clube faz uma boa campanha, estando na 4ª colocação da primeira fase, com 10 pontos, e encaminhando a classificação para a próxima fase do torneio. Além do estadual, a equipe terá a Série D para disputar e, através dela, poder voltar à Série C.
Conclusão
O Brasil de Pelotas é um dos clubes mais tradicionais do Rio Grande do Sul, com uma torcida forte e jogadores históricos, mas que, devido às más gestões e falta de receitas, perdeu competitividade e foi ultrapassado por clubes com maior porte financeiro e melhores gestões. Porém, há um horizonte a ser explorado, pois o Xavante segue na elite de seu estado e tem uma divisão nacional para disputar.
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